Ai, as minhas mãos suam e não me dizem porquê (perdi-me nas letras). As minhas mãos estão feitas contra mim, aliadas ao meu tique nervoso de não fitar pessoas nos olhos e manter a voz miúda e insegura, quando sei que não sei mentir e minto ainda pior do que sei. Eu quero dizer ao Sr pica que tenho um chilique que me impede de comprar bilhetes e que a minha fobia aos Srs polícias deve-se à minha mania de tomar decisões precipitadas como entrar em fuga e esconder-me nos esgotos, até que se cansem, até que hajam mortes e coisas mais importantes para prender do que alguém ansioso por ver quem ama seja como for. Crime é outra coisa. A minha única liberdade é saber que ele existe e a minha única rendição é saber que me perdi nas palavras, mas que ainda existe alguém vivo neste mundo. À minha espera. Que se foda a literatura.
Ai Sr pica, recorde-se lá de como é que é e deixe-me seguir viagem. Se eu o perder nunca mais sou eu mesma e aí, acredite, faço crimes maiores do que andar por aqui sem bilhete (e faço cara de má e ele parte-se a rir).