sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Ab ultima cave.


Convém que eu sublinhe e que tu entendas, por uma vez que exista, que eu nunca fui tua mesmo quando o quis ser. Que a vida sempre me tocou como eu toquei no mundo: ao de leve, com um sorriso aberto e uma consciência de bolso, nesciente. Com uma dor de perder que é só minha, que não desaparece - e chega mesmo a persistir, escarninha e má - quando são os meus dedos que se desfazem em sonhos encravados e peles perdidas, lágrimas e veias a esvaírem-se com o costume de não ter.

É por isto que te digo: nunca fui tua, nem ao terceiro sono. Quando me apercebi que toda a minha vida girou em torno da mesma essência, que era querer esconder-me toda em ti para conseguir dormir e renascer em paz. Que era prometer que nunca mais fugia e que tu merecias amor, para variar das pancadas que te dava o mundo e a infância. Que eu não existia, sem a segurança de tu seres o que de mais bonito eu tinha: uma história para contar, uma amnésia doce e querida.


Quando acordei benzi-me, sem fazer ideia do porquê. Depois chorei.

2 comentários:

joao_23 disse...

Por cada caixão, um embrião

Rei morto, rei posto

Beijo
João

Luís Mendes disse...

belíssimo texto*