domingo, 22 de junho de 2008

Wheel of Sun and Moon


Ah, coração…não sei te cuspa pela boca, ou se te arranque do peito. Para que não me mates com aquilo que mais amo. Para que não me cegues nem vendes. Nem vendas.

Sou Sol, tornei-me Sol por bênção. Ou por necessidade. Ilumino o melhor que posso o meu mundo, com todas as casas que construí, campos que cultivei e almas com que me cruzei. Sou dedicado e, ao fim do dia, nunca me esqueço de beijar o meu Oceano. Digo-lhe Boa Noite, rezo para que lá esteja no dia seguinte e desapareço no horizonte. Dizem que fico bonito quando me vou. E eu acredito.

Depois de mim chegas tu, porque te condenei a ser Lua. Para que quando chegasses eu já não estivesse, não te visse e não me pudesses ver. Para que iluminássemos sempre partes opostas do mundo e da vida. Para que tivesses milhões de estrelas lindas à tua volta e as cobiçasses, sonhando, sempre sonhando, esquecendo-te (e lembrando-te de vez em quando) que a mais próxima da tua terra sou eu. Ah, mas eu estarei longe. Bem longe.

Condeno-te a Lua, por séculos e séculos. E sabe bem. Porque no final conseguirei respirar sem pontadas no peito, e não te terei à janela sempre que abro os olhos de manhã. Também não precisarei de eliminar cheiros da minha pele para sentir o aroma da vida e não terei a palavra “Amo-te” cravada a pregos na traqueia. É assim que as coisas funcionam doravante. Porque nós vemos o mundo por diferentes luzes. E quando nos juntamos…há eclipse, e tudo se apaga.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Quis sibi verum dicere ausus est?


Uma pessoa cansa-se tanto do bom como do velho. Chora porque os músculos faciais não são de ferro mas versáteis e ri-se por mais que pareça que nunca mais vai conseguir rir. Desenha sardas nos bonequinhos das folhas brancas e , quando dá por ela, o pontilhismo tem vida própria e pára indeciso na boca dos meninos, se para cima ou para baixo é uma decisão que muda uma vida e atrai outras tantas, consoante a escolha tomada.
A pergunta é: e eu perguntei-te alguma coisa? Quando me entopes os olhos de emoções cansadas e leitos de amantes desfeitos sem sequer reconsiderares cinco minutos de descanso para a coitada ou coitado que tem de me conhecer à força e à bruta, pensas que te quero lamber as feridas e comer-te as ansiedades, para te jurar carinho eterno feito de seda, tão doce e macio que irrita até o menino Jesus? Magoas-me, onde dói mais ou se finge esquecido. Era bonito começar de novo, perseguir a própria cauda e não chegar a conclusão nenhuma. Olá, eu sou o João, Magnólia, prazer é nosso, uma carrada de filhos e de planos como nunca se viu em lado algum.

Um - dó - li -tá, um segredo colorido, quem está livre, livre está.


Islander


Conheço um homem perfeito que não é perfeito, mas vive de uma perfeição imaginária e, por isso, real. Mora num mundo perfeito que mais ninguém conhece, nem poderia, por mais que tentasse. Encheu um copo com água, salgou-a e diz que tem um oceano em casa, só dele, para o qual olha e pelo qual navega e divaga. Também tem um vaso com uma planta que nunca vi e algumas ervas daninhas - diz que é o Jardim do Éden. Só tem que o regar de vez em quando, para que não se torne o Gethsemane. A mulher da sua vida, essa, está sempre perto dele, é esposa fiel e dedicada - mora na parede ao lado da cama, desenhada a carvão, com traços perfeitos e sem lágrimas.


Este homem perfeito tem ainda um amigo perfeito. Sim, só um. Não precisa de mais, porque pode confiar-lhe todos os seus segredos, sem medo de represálias e com a certeza de que jamais serão ouvidos por terceiros. Não me lembro do nome desse amigo, mas acho que é qualquer coisa como Papel... Ele não fala muito, mas ouve tudo o que lhe queiram dizer, e tem muitas palavras bonitas tatuadas por toda a pele. Até dá medo de lhe tocar.


O homem de quem falo também não tem rádio, aparelhagem ou piano, porque não precisa e não quer precisar. As músicas que ouve e conhece são suas, e correm pela sua cabeça num loop constante e acolhedor. Algumas dessas músicas até trauteia. As mais fáceis, claro.


Outro dia ele fez anos. Ou séculos, não sei bem. Como é óbvio também não lhe conheço a idade. Nesse dia, ofereci-lhe um espelho. Ele olhou para o seu reflexo e ficou estupefacto, admirado ao ver que o mundo precisava dele. Decidiu então partir, agradecendo-me. Não quis fazer as malas. Abraçámo-nos e eu acenei até ele desaparecer no horizonte, os meus olhos turvos e o meu coração cheio. Agora cá estou - a navegar pelo copo de água, a regar o Éden e a tomar-lhe conta da esposa. O amigo dele, esse é a melhor companhia do mundo. Ainda assim, sei que lá no fundo só estou à espera do meu dia de anos, para que alguém me ofereça um espelho.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Não se esqueça: Respirar




Esquece tudo o que te disse até hoje, porque tu sabes e eu sei que nunca me irás conhecer, vice- versa a mesma coisa. Nem desta forma ou doutra, porque sabemos bem que as formas de Arte são sinónimos de vida e nós nunca concordamos, não temos sensibilidade nem audição para tanto. Também sabemos que não sabemos nada e igualmente não o queremos saber o que me leva a apetecer mudar tudo, começar do abaixo de zero, ou seja com os erros do passado e os joelhos enregelados, para ver até onde revoluciono sem deixar de ser eu. Existem dias que parecem noites e palavras que parecem saltimbancos que me pisam, que me pisam e me dizem, o teu lugar é mesmo aí, não te importes que eu também não.


Não me oiças sequer hoje, pois hoje a carta é para Deus. Não deve ser levada a sério, a não ser por ele, se ele não resolver fazer greve por haver falta de crentes, ele há-de ler e depois responder num seco Recebido, assinado Sr. Deus ou um qualquer empregado do seu ministério. É preciso que te diga para não me ouvires, que a ideia é o Non-Sense e hoje, hoje só, não marco falta de presença.


- Tu querias, tu querias... tu querias era favas e fígado cortado às rodelas.


Eu queria que tu te esquecesses dos teus monólogos e catitas dores de bolso para respirares. Ninguém se lembra: Respirar. Roubam-nos o tempo como o fazem com o sol, sempre o fizeram, de cada vez que vem o Verão o fazem. Roubam-nos a hora de todos os dias e devolvem-na gelada. Como se podem amar estações vizinhas se sabem, de antemão, que lhes vão roubar o tempo? Condenadas a serem sombras de velha solitária, que não têm dedos, que não têm línguas, que não têm sexo nem direito a bodas de prata. As flores perderam-se e os muros voltam à ideia primária de serem muralhas. Troca o passo, tudo acaba aqui.


- Veja lá se quer mesmo a cura, porque uma vez a neurastenia entrou e não chegou a sair. Veja lá, veja lá, que ainda há quartos vagos e a renda é do mais baixo que há. Uma vez por semana até a deixamos pôr a cabeça fora da janela e reze pelos pombos não se decidirem para baixo. Televizãozinha, arrastadeirinha e comida sem sal, mastigada, mas comida; Bem-vinda? Ai vida, que querida, mais uma cliente do sanatório mais limpo de Portugal. E não se esqueça: Respirar. Era assim que eles te diriam.


Cheiro o mofo dos livros como se fossem virgens islâmicas, tacteio os móveis sem querer descobrir as gavetas inábeis e é nas casas vazias que perco mais tempo. De vez em quando, apetece-me morrer e outras tantas, matar o último romântico ao cimo da terra. Mais palavras de amor e cheiro a papoilas, Não por favor, é demais, Mate-se que já deve minutos à humanidade, se o outro não quer, queria, É esse o lema de qualquer romântico, o pretérito imperfeito como a tempo do dia. Não há paciência (quisesse).


- Respirar.

domingo, 8 de junho de 2008

O Jogo (Já te foste)


Tenho uma caixa. Craniana. Está cheia de tudo, mais alguma coisa e ainda de um ou outro pensamento que tem o seu (variável) quê de relevância. Viro-me para todos os lados e escolho o centro - Silêncio. Dêem-me silêncio. Um minuto de silêncio. Finjam por momentos que morri, e depois que volte tudo e estarei mais preparado. Agora só quero pensar e criar a força para caminhar sem medos. Carne forte em espírito que fraqueja.


Caixa, cheia. Os concertos de verão, os projectos com sede de vingança, a sonata a saber de trás para a frente, os "agoras" e os "nãos", os papéis cruéis que exigem que mostre o que sei e o que não sei, os anos pela frente que fogem a uma velocidade inacreditável, invivível, um Eu que se calhar até sou eu e que não se sente nele quando a lua se esconde e mostra que lá foi mais um dia em que nada disto se passou. Se há mais , anoto já na agenda - perdido por cem , perdido por mil e dois.


Um corpo com tanto para encorpar - poetas, doutores, amantes, escritores, músicos , coleccionadores, loucos, crianças, adultos, monstros e etc. Não sei do tempo em que eu não tinha de escolher vidas. Escureçam-me as cinzas e sei que me desfaço, há muito que ardo por dentro e não sinto a neve virgem na paisagem branca. Corro por ela e lanço pétalas de rosa em todas as direcções. Saibam que passei. Posso não voltar, mas estive lá.


Pus as cartas na mesa, alguém soprou e elas voaram em todas as direcções. Olhei a face de quem o fez e não vi senão fuga e apatia na sua expressão, que gostava de entender. E lá vou eu apanhá-las uma por uma, para a medo e discretamente as voltar a pôr onde estavam e como estavam na mesa. Mas o processo repete-se. Não sei se é vício ou esperança. Perdoai-me, Senhor, que não sei o que faço. Vou morrer, sim(mas não será de aborrecimento).

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Tous les jours aient un fin


Nada mais importa. Eu estou morta, mas sou real ou fui - perco-me no tempo, mas nunca no espaço. Haja alegria! e nada mais importa na vida de nós juntos ou separados. Ou na nossa vida, que é minha e não te pertence, porque hoje, hoje não me apetece dar explicações nem dar-te a minha vida para o monte de Vénus das tuas mãos. Não me apetece ser gente nem bicho, nem pensar ou desdizer, ou calcular e aprender, ou dizer que não há mais alternativas que todas as que já escolhi. Não me apetece falar, mostrar que sou boa pessoa e que de confiança é o meu apelido do meio, o escondido, mas o da mãe. Não me apetece ser criança, que o mundo todo à nossa frente não nos deixa com um número de senha muito favorável. Nem velha, velha não quero, desaprendemos tanto na vida e depois é menos um, menos um quando nos perguntam como é que correu o dia.

Apetece-me ter cordas para me desamarrar, que isto há coisas que precisam sempre de outras para acontecerem. Vá-se lá entender e sentir. É difícil para mim escrever sem raciocinar, está visto. Não tenho pele, mas sou real ou já fui, nunca sei. Estou um tanto ou quanto com falta. E em falta também. Fin, que língua que sabe beijar bem também me serve para final. Gugu - dádá.