quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Casa de Vidro (s)


Um dia deixar-me-ás de ouvir, no seu lugar e tempo devido. Um dia as gargalhadas deixarão de existir entre nós e as lágrimas serão a única maneira de nos declararmos vítimas. Seremos obrigados pela falta de memória e de dias a conhecermo-nos de novo, estreados com emoções velhas próprias da velhice que nos custa tanto a engolir. Um dia, dois dias vamos ter cordas ao pescoço e Xanax perto das molduras. Quando nos apercebermos que o tudo se resume ao nada e que a maior dor, essa é não lembrar - ao contrário do que pensamos, ser não esquecer. Diremos É a vida, é a vida e enquanto dizemos isto um ao outro pensaremos noutras tantas coisas. Que podíamos ter-nos tocado mais vezes, podíamos ter tentado fazer o que gostávamos que fizessem por nós. Sei ainda que a dor um dia, um milénio, vai ser muita, pesada e insuportável. Uma casa sem risos nem vontades. Ou fantasmas bailarinos que nos animem os dias recônditos do nosso abrigo cheio de sol e de noite.


Tinha que te contar isto porque também a mim me disseram que um dia, um dia nós não vamos poder estar lá quando precisarem de nós; quando nos disserem Eu preciso de ti , não vão sempre ouvir Presente, Limpo-te as lágrimas, dou-te o suor - Eu é que preciso desesperadamente, preciso que precises de mim. O que ouvimos ou não é o espelho da nossa fé e nós deixamos inevitavelmente de ouvir, porque ainda não aprendemos a ser de outra forma. Um dia longínquo vamos ser sombras cegas, surdas e mudas. O silêncio é de ouro - beija-me.

1 comentário:

Anónimo disse...

Um texto que me lembra os cafés Nicola xD (...um dia deixo de ser parvo...)

Um dia terás tudo aquilo que mereces e desejas agora. E eu estarei lá sempre, para dizer "Presente- limpo-te as lágrimas, dou-te o suor".

Adoro-te. Tenho saudades. ****