Nada a declarar. Tudo a esconder. Caem cometas e todos se abrigam – sobro eu para os observar, sem medo nem fascínio. Ando pelas ruas e os estrondos ensurdecem os ouvidos mais sensíveis. Não os meus.
Quem me viu e quem te vê. Chovem cartas mas não me apetece ler, nem para tirar uma ideia para este texto nem para perceber o que se passa com a vida. Há coisas que não me apetece saber. Tipo todas. Deixa andar. Deixa viver, deixa sofrer, deixa rir e chorar. Não me macem. Ou macem, se quiserem. Ou marquem. Ou matem.
Chove dinheiro. Caem notas e todos saem à rua – sobro eu como o falido, sem perspectivas nem ambição. Ando pelas ruas e os gritos são avassaladores para as mentes mais despertas. Não a minha.
Quem te viu e quem me vê. Onde é que já vi isto? Cantam-se baladas românticas e eu que não as oiça, porque sabe-se lá em que bocas já andaram. Há coisas que nunca cantarei. Tipo todas. Deixa estar. Estou bem assim. Vai morrer longe. Ou vem viver perto. Tanto se me dá como se me deu. Já dei tanto que dei demais, e acho que não dá. Também não preciso que me dêem nada, nem que me dêem a ninguém. Dêem-me só um tempo, e talvez me junte ao senhor do acordeão que vagueia pelos metros do mundo, a agarrar o copo para que deitem as esmolas do fundo poeirento da carteira rompida. E ao leitor, peço desculpa. Porque um texto sobre seca é uma seca de texto. Mas que não se preocupe ninguém, pois aceitei o desafio de escrever sobre apatia, e enquanto o meu tema for este, vou eu morrer longe.
Um abraço muito forte, e até breve, esperemos. Mas também não me interessa muito.
4 comentários:
Num suspiro de nada a declarar desenhaste o mundo com luz e sombras.
As cartas servem para ser queimadas e o dinheiro para deixar de existir. As ruas estão desertas, cheias de gritos nas paredes e janelas.
As baladas, essas são perigosas, são como venenos de mil véus.
Sabes, a apatia é uma coisa do quotidiano, é o nosso monstro de estimação. O mal é quando o monstro domina o mestre, por isso trata de lhe meter correntes bem fortes e - se for possível na metafísica letal das palavras e sentimentos - fere-o letalmente e deixa o seu sangue escorrer em belas melodias.
Beijos
Parece-me que te tornaste num novo astro para mim. A apatia, a meu ver, era algo que não se podia definir com um rol de palavras. Era algo quase tão pouco traduzível como a palavra "Saudade", que continuo à espera que ma traduzam por palavras em português, que eu sentir sinto-a bem, mas por escrito não a tenho e gostava de a registar; para o caso de me esquecer um dia.
Tudo isto para dizer, sim, a apatia é tudo isso, "mas pouco interessa". Chuvam cães, gatos, cavalos e um rinoceronte pelo meio, mas não interessa, porque Portugal ainda é nosso, e nós simplesmente não queremos saber.
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Olha olha quem se rendeu ao "mundo" dos blogs!
Gostei do texto menino pedro, um bocado pessimista, é verdade... mas gostei.
Sinceramente, sinceramente, mas muito sinceramente... 5*s ! Do melhor que já publicaste ou já me deste a ler.
Se for assim, aguarda-me que eu vou andar a "desafiar-te" todos os dias. Adorei e adoro-te ^^ (paneleirice do dia)
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