Era cedo. Ele vagueava pelas ruas perto de casa. Muito perto de casa. Sim, que a comida da Mãe é boa e cá fora todos nos envenenam. Ah, e ele só costumava pisar víboras.
Quando deambulamos muito pelo mesmo sítio, conhecemos-lhe os cantos e as arcadas, mas foi com um novo sítio que ele se deparou. Era um café que nunca tinha visto antes, com esplanada e vidraças. Curioso, entrou. Lá dentro, o cheiro a novidade invadiu-lhe as narinas, e os sorrisos de boas vindas encheram-lhe os olhos. Agradável. A senhora do balcão parecia investigá-lo como quem está à espera de determinado pedido ou atitude, predefinido, normal e tão fácil de satisfazer quanto possível. Ele avançou e pediu um café, ao que a senhora sorriu, apressando-se a mexer na máquina.
- Normal?
- Sim, se faz favor. Haja algo.
- Ora aqui tem. - (Sorriso.)
-Obrigado.
- Tem os olhos bonitos.
- E o coração aos pedaços. Quanto é?
- Deixe lá isso. É o nosso primeiro cliente. Dia de abertura, oferta da casa.
Foi sorvendo o café ao balcão. Quente, escuro, forte. Havia esplanada, mas ali estava-se menos-mal. Dia de abertura. Já tinha tido tantos dias de abertura na sua vida, e acabou sempre por fechar as portas pouco tempo depois, mesmo com ofertas da casa. Teve vontade de dizer à senhora que não ia resultar, que ele sabia, que com ele pelo menos o dia de abertura era um lançamento de foguetes antes da festa que nunca viria. Mas não, para quê, se esta senhora ia ter sorte? Estava escrito nos olhos dela, estava um forte trago a sucesso no café. E talvez ele também o tivesse, ou viesse a ter, por estar ali, por ser o primeiro. Talvez o derradeiro dia de abertura fosse hoje. E porque não? Ou porque sim? Terminou. Pousou a chávena.
- Obrigado. E parabéns pela abertura.
- Obrigada eu. Volte sempre.
- Hei de voltar, sim. Um bom dia.
- Se voltar hoje, ainda lhe ofereço outro.
De graça, até injecções na testa; já diz o povo.
Eu às vezes pagaria por uma.
Quando deambulamos muito pelo mesmo sítio, conhecemos-lhe os cantos e as arcadas, mas foi com um novo sítio que ele se deparou. Era um café que nunca tinha visto antes, com esplanada e vidraças. Curioso, entrou. Lá dentro, o cheiro a novidade invadiu-lhe as narinas, e os sorrisos de boas vindas encheram-lhe os olhos. Agradável. A senhora do balcão parecia investigá-lo como quem está à espera de determinado pedido ou atitude, predefinido, normal e tão fácil de satisfazer quanto possível. Ele avançou e pediu um café, ao que a senhora sorriu, apressando-se a mexer na máquina.
- Normal?
- Sim, se faz favor. Haja algo.
- Ora aqui tem. - (Sorriso.)
-Obrigado.
- Tem os olhos bonitos.
- E o coração aos pedaços. Quanto é?
- Deixe lá isso. É o nosso primeiro cliente. Dia de abertura, oferta da casa.
Foi sorvendo o café ao balcão. Quente, escuro, forte. Havia esplanada, mas ali estava-se menos-mal. Dia de abertura. Já tinha tido tantos dias de abertura na sua vida, e acabou sempre por fechar as portas pouco tempo depois, mesmo com ofertas da casa. Teve vontade de dizer à senhora que não ia resultar, que ele sabia, que com ele pelo menos o dia de abertura era um lançamento de foguetes antes da festa que nunca viria. Mas não, para quê, se esta senhora ia ter sorte? Estava escrito nos olhos dela, estava um forte trago a sucesso no café. E talvez ele também o tivesse, ou viesse a ter, por estar ali, por ser o primeiro. Talvez o derradeiro dia de abertura fosse hoje. E porque não? Ou porque sim? Terminou. Pousou a chávena.
- Obrigado. E parabéns pela abertura.
- Obrigada eu. Volte sempre.
- Hei de voltar, sim. Um bom dia.
- Se voltar hoje, ainda lhe ofereço outro.
De graça, até injecções na testa; já diz o povo.
Eu às vezes pagaria por uma.
3 comentários:
E voltaste lá hoje e tiveste de pagar que até arrotaste. xD Ok, menos.
Já te disse o que achava. Está lindo. E amanhã temos de falar, parece-me. (Porque nós nem fazemos disso). xD
Beijinho.
E o post que escrevi em cima... não é para ninguém, ok?
Eu pagaria por duas injecções e meia de realidade.
Mas, como diz o sábio, "No one really wants to die to save the world". Ninguém quer a realidade quando pode ter o sonho, mesmo quando isso implica ter mil e um dias de abertura e mil e dois dias de fecho definitivo. Porque os sonhadores nunca morrem, sabendo que vem sempre um 1003º dia de abertura.
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